quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Introdução

Você precisa ser livre.
E ser livre não lhe é direito concedido desde o nascimento, rapaz.
As pessoas dizem que você tem direitos, te ensinam o certo e o errado e tudo o mais que constitui essa linda sociedade em que vivemos hoje.
E você cresce, amparado por valores fundamentais como honestidade, firmeza de caráter e todo o blá-blá-blá fajuto que as escolas e famílias brasileiras te enfiam goela abaixo.
E você, depois de grande e honesto, trabalhando no seu ofício qualquer de 8 à 10 horas por dia, recebendo um salário que mal dá pra pagar as contas e botar a comida na mesa (e às vezes sustentar 2 ou mais filhos e parentes), se depara com toda a falta de escrúpulos e moralidade entalhados nas faces diversas que compõe todo e qualquer cotidiano de qualquer cidade, de qualquer lugar do mundo.

Você não se cansa nunca? Não se cansa de ver todo mundo crescendo à sua volta, comendo melhor que você, andando com roupas melhores, pegando as mulheres mais bonitas, andando com os melhores carros e vivendo nos melhores condomínios?
E você aí, andando com o carro parcelado em 48 vezes, endividado com o banco e o supermercado, o tênis furado, não podendo se dar ao luxo de ter um teto sem goteiras, não podendo sair pra passear num dia qualquer já que o dever te chama e o patrão te escraviza.
Você acha que é persistente. Acha que é guerreiro. Afinal, você é brasileiro e brasileiro não desiste nunca.

Não existe honra por trás do insucesso, rapaz. Não existe beleza nenhuma em viver num círculo vicioso onde os mais espertos, os mais bem relacionados e, pior de tudo, os de caráter mais duvidoso, são muito mais bem sucedidos que você.

Mas você, como eterno colono de culturas muito mais desenvolvidas e poderosas, acredita que tem um pai superior que tudo lhe concede, que tudo lhe dá.
Acredita em Deus como a força que rege todas as coisas, todos os dias e todas as noites.
Acredita piamente numa espiral de redenção, pecado e condenação, onde todo o mal que se faz será pago nas chamas do inferno e toda a sua bondade lhe será recompensada com o paraíso maravilhoso, lá onde o vista não alcança.
Não questiono sua fé. De maneira nenhuma. Questiono sua lealdade.
Você é leal à quem, rapaz? É servo de quem?

Você sabe que só a sua fé não é suficiente. Você sente. Porque a vida vai endurecendo cada vez mais. Os problemas vão ficando maiores. Suas orações tornam-se mais longas.
Alguns acreditam em sinais. Sinais de melhora. Sinais espirituais.
Uma determinada hora, você enfraquece de vez. Recorre à comunidade. Quer se encontrar com pessoas e se identificar com elas.
Bota o terninho bem passado, a camisa bem engomada e corre pra igreja.
E lá o mundo ganha um novo significado. Todos são como você. A semelhança assusta.
Então você se reconforta porque enxerga ali que tudo tem um significado maior.
Mas, ei, você ainda não entendeu porra nenhuma, né?
Sua vida não melhorou. Você continua pobre, fudido e manipulado pelos mesmos espertinhos de sempre.
Crendo em Deus ou não, você ainda é um insucesso.
A comunidade lhe oferece coisas, claro. Você pode conseguir um emprego melhor, seu círculo de amizades aumenta, sua auto-estima se revigora.
Mas é tudo mentira, rapaz.
Seu pastor, que é o emissário do Senhor, mora muito melhor que você. Come muito melhor que você e tem a conta no banco MILHARES de vezes maior que a sua.

Você não se cansa nunca?

Não se cansa de deixar todo mundo fazer a parte difícil da coisa, que é pensar, planejar e executar e te deixar com a parte mais fácil, que é consentir e abraçar à causa?
Não se cansa de ser essa eterna marionete na mão de todos que tem um quociente de inteligência maiores que o seu?
Seus ídolos, seus sonhos e sua crença são fabricados. Sempre foram. A história prova.
Os livros estão aí. Você só não perde seu tempo procurando na internet porque inventa uma desculpa qualquer ou porque encontra algo melhor para fazer (baixar músicas de pagode, baixar pornografia infantil e coisas nojentas do tipo).

A verdade, meu rapaz, é que você não suporta a verdade. E nunca suportará.
Nunca vai conseguir sequer chegar perto de entender porque existem tantos grandes nomes cravados na história desse mundo. Nunca vai entender os mitos e as lendas se pessoas que ajudaram a criar tudo o que conhecemos hoje.
Sua mente está carregada de informações. A maioria fútil.
A parte da sua consciência que deveria estar livre para o pensamento abriga a maior arma de todas: a culpa.
Culpa de pensar o que não se pode pensar. Culpa de se desejar o que não se pode desejar.
E, crente como você é, morrendo de medo de ir parar no colinho do Capeta, você quer expiar seus pecados.
Você quer se tornar vassalo. Você precisa. Torna-se uma necessidade.

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